sábado, 12 de fevereiro de 2011

Cisne Negro

Resolvi comentar, até o dia 27 de fevereiro, data da cerimônia de entrega dos Oscars (confira aqui os indicados), sobre os filmes indicados ao prêmio máximo do Cinema: o Oscar de melhor longa-metragem.

Por aqui já passou A Origem, A Rede Social e Toy Story 3. Hoje é a vez de Cisne Negro.

Dirigido por Darren Aronofsky, mesmo diretor de O Lutador (filme que trouxe novamente à tona o estranhão Mickey Rourke), o longa conta a história de Nina, recém-nomeada bailarina principal de uma companhia de dança que irá estrear a nova temporada com O Lago dos Cisnes, obra do compositor Tchaikovsky. Nessa obra, a dançarina principal interpreta a Rainha dos Cisnes, protagonista pura e ingênua da história, e ao mesmo tempo o Cisne Negro, irmã gêmea da Rainha e de espírito sedutor e imprevisível. Nina possui todas as características para um Cisne Branco perfeito, mas seus movimentos muito técnicos e mecânicos a fazem um péssimo Cisne Negro.

A partir daí Nina sofre com a pressão ininterrupta de sua mãe superprotetora (que já foi também uma bailarina), de Thomas, o diretor da peça, e de toda a companhia de dança. Para piorar, a chegada de Lily, uma ótima bailarina de São Francisco ameaça seu posto recém-conquistado. Toda essa pressão faz com que Nina atinja seu limite físico e psicológico, no objetivo de conquistar a perfeição na noite de abertura do espetáculo.

E esses limites fazem parte da trama principal do filme, que o torna quase um terror psicológico. Nina aos poucos começa a sofrer delírios, sofrendo com o fato de não conseguir liberar o Cisne Negro que está aprisionado dentro dela. As "ajudas" de Lily, Thomas e sua mãe pioram ainda mais a situação, que chega num pico justamente na noite do espetáculo.

Os aspectos artísticos do filme são impecáveis: tanto a maquiagem quanto o figurino são características indispensáveis num filme que tem o balé como pano de fundo. Por sinal, o figurino de Nina e dos personagens secundários ilustram perfeitamente essa dualidade no psicológico da protagonista: normalmente vestindo tons de branco e rosa, Nina possui uma personalidade tímida, recatada e pouco emocional, frígida, como dizem alguns personagens, o que dá a entender que é bem semelhante ao personagem do Cisne Branco. Já Lily sempre se veste de preto, representando o Cisne Negro e toda a malícia e sedução do personagem. Nina, em seus momentos em que consegue expor o seu lado Negro, passa a vestir preto, como na cena da boate ou mesmo nas cenas finais, ao incorporar o personagem.


A trilha sonora, apesar de ser quase toda inspirada diretamente na obra de Tchaikovsky, é muito bem usada ao longo do filme, e consegue aumentar muito bem a tensão em algumas cenas, misturando a interpretação dramática dos atores com música clássica ao fundo.

Por sinal, a atuação dos personagens principais são um espetáculo a parte. Natalie Portman mais que mereceu a indicação ao Oscar de melhor atriz, criando uma personagem determinada a atingir seu objetivo, mas ainda assim reservada e submissa. Isso sem falar no preparo pré-filmagens: perdeu muito peso e aprendeu a dançar de forma tão real que parece que ela é bailarina desde os cinco anos. O elenco de apoio também é muito bom: Mila Kunis teve seu primeiro papel dramático competente (O livro de Eli foi muito ruim, convenhamos) e conseguiu virar a página da pergonagem de That '70s Show, e a mãe de Nina consegue transmitir de forma real (e até mesmo tensa, em alguns momentos) a mistura de amor e fanatismo que sente pela filha. Vincent Cassel também produz um personagem cretino, mas que realmente quer que Nina atinja seu potencial completo.

Mais uma vez Darren Aronofsky dirige um filme que aborda os limites físicos e psicológicos do ser humano, como ele fez em O Lutador. A diferença é que nesse filme o personagem que sofre é um brutamontes de todo tamanho, enquanto em Cisne Negro é uma jovem magrinha e ingênua, o que aparenta chegar num nível ainda maior de sofrimento. Enquanto ele continuar trabalhando com produções do mesmo nível que esses dois filmes, eu é que não vou reclamar.







*****Cisne Negro (Black Swan, 2010)
Dirigido por Darren Aronofsky. Escrito por Mark Heyman e Andres Heinz.
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel

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