Se escrevesse este post em outro dia, ninguém ligaria. Mas depois destes dias de muita chuva, ela se torna quase heróica. Ainda mais, sabendo que ficaram fechados a Av. Das Américas, a Av. Niemeyer, Av. Brasil, e o túnel Zuzu Angel.
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Acordei as 5:00 hrs e antes de entrar no carro estacionado na porta de minha casa já estava encharcado. Avistei o carro, ainda da varanda de casa e vi que não conseguiria dar a volta para entrar, então abri a porta traseira do lado oposto e rastejei por dentro do carro até chegar ao banco do motorista. Assumi a posição e me preparei, pois já sabia que a viagem seria tensa. Mas fazer o que? Haveria prova naquele dia e justo da matéria mais difícil! Fazer segunda chamada seria suicídio.
Então parti, segui pela orla, atravessei o Recreio, reserva e a praia da Barra. Até aquele momento estava tudo calmo como o de costume, a chuva já estava fraca, apenas os bolsões de água estavam maiores do que o de costume. Dobrei para a Av. Das Américas para pegar o elevado e comecei a notar algumas diferenças: não havia os trabalhadores nos pontos de ônibus.
Atravessei o elevado, ao som vorás das ondas do mar que se espancavam contra o rochedo abaixo. Entrei em São Conrado, e por um instante vislumbrei a imagem calma da capelinha no alto do morro. E ate lembrei que falta pouco para entrar naquela igreja como noivo. Enfim voltei minha atenção ao transito que a essa altura, em dias normais, já deveria ter sido esmagado quase fora da pista pelos ônibus. Mas hoje não. Não havia nenhum ônibus!
Dirigi para pegar a Av. Niemeyer e dei com a cara na placa de "Fechada". Voltei para estrada Lagoa barra e resolvi encarar o Zuzu Angel. Quando entrei, tive a sensação de estar assistindo um daqueles filmes pôs guerra mundial como o “Livro de Eli”. Pois o túnel estava realmente em uma era pôs apocalíptica, sem luz, a marca de água na parede ficava a um metro de altura, e no chão: areia, pedaços de concreto, Madeira, restos de obra, lixo, muito lixo e ainda alguns pedaços de carro. Um espelho retrovisor aqui, uma lanterna ali e pouco a pouco fui avançando pela escuridão.
Realmente fiquei aliviado em poder ver a chuva no final do túnel, que há essa hora já era mansa. Desci na Gávea, parei no sinal e quando olho para frente, vários carros girados próximo lagoa, mais um tanto com o pisca alerta aceso e outros literalmente com seus donos dormindo dentro dos carros. A noite foi longa pro aqui. Então a turma de carros que havia parado ao meu lado no sinal começou a voltar de ré, tive de fazer o mesmo. Voltamos até o acesso ao Leblon e entramos. Chegando à metade do caminho encontramos uma velha arvore caída sobre a pista. Entramos na contramão e atravessamos ate conseguir sair na próxima rua paralela. E assim segui até vazar em Ipanema ainda sobre a calçada. Chegando a orla, tive sucesso e consegui ir até Botafogo e Urca.
Parei meu carro no lugar mais alto que pude encontrar. Troquei minha roupa e fui fazer a prova. Aguardamos, aguardamos e nada, ninguém chegava. Nem o mestre da matéria iria chegar, deram a prova por cancelada e antes que a chuva apertasse novamente, coloquei minha roupa de briga e entrei no carro para voltar.
A essa altura minha consciência estava tranquila, afinal eu cheguei aqui para fazer a prova e agora é só fazer o mesmo caminho para voltar. Com esse pensamento entrei na subida do rio Sul para atravessar até Copacabana sem enfrentar bolsões de água. Doce ilusão! Estava fechada de arvores tombada, voltei na contra mão e peguei o aterro, pois o retorno estava fechado como o de costume. Atravessei a praia de Botafogo até o primeiro retorno e então consegui voltar e pegar a Princesa Isabel.
Chegando ao final do túnel, vi que a orla estava fechada no sentido que eu queria, pensei vou pelas ruas mais altas lá próxima a delegacia e por lá fui. Sozinho! Atravessei o túnel para Ipanema e então um mega bolsão com correnteza e tudo atravessava a minha frente. Parei para pensar em um caminho alternativo e começou a se amontoar carros e ônibus atrás de min.
O primeiro a se aventurar foi um pick-up que passou sem grandes dificuldades, logo depois um fusquinha encarneirou atrás dela, e ficou pelo meio do caminho. Coitado do dono daquele fusquinha. Um ônibus atravessou e chegou à vez de um palio que no meio da à enchente achou um bueiro destampado. Outro ônibus passou e reparei que ele nem tinha afundado muito. Percebi que havia identificado uma rota sem buracos,e com uma profundidade que meu golzinho enfrentaria. Então decidi que era minha vez e fui.
Nessa hora lembrei-me de todos os ensinamentos passados por meu avô enquanto dirigia na fazenda para ele. Atravessando córregos d’água, rios e riachos. "Mantenha o carro embalado, nem rápido demais, nem devagar demais". "Coloque uma marcha forte". "Olhe na água para ver onde tem buracos escondidos", e assim fui até chegar ao outro lado, sem buracos, sem entrar água no motor. Consegui! Agora outros se aventuravam inspirados na rota que havia feito.
E sem maiores dificuldades cheguei ao Leblon, peguei a gávea e chegava a hora de entrar no túnel apocalíptico Zuzu Angel, mas a única coisa que me preocupava era o bolsão que se formava a toda chuva na frente da Rocinha e como eu iria passar lá. Mas forçado pelo transito entrei no túnel e fui atravessando desviando dos detritos humanos deixado pelo caminho. Quando avistei o outro lado, para minha surpresa o bolsão não estava lá! Havia uma chance de chegar a casa. Atravessei são Conrado, o elevado, logo estava na Barra, a Avenida das Américas estava vazia. Então a única coisa que me separava de casa era os 50 sinais sincronizados com precisão suíça da avenida.
Cheguei ao recreio, entrei na minha rua e prontinho, minha casa estava lá. Eram 10 hrs da manha, e estava em casa. Gastei 5 horas atravessei a cidade, tive um dia de emoção e não havia feito nada! Sai do carro, fiz um check-up para ver se o carro estava ok? Encontrei um pregão espetado na minha roda, mas achei justo para quem desafiou a natureza, a segurança e a cidade do Rio de Janeiro.
Troquei o pneu, entrei em casa, tomei um banho e estava pronto para um descanso de herói, regado com o restante das guloseimas da Páscoa. Mas na minha cabeça latejava uma coisa: Será que quinta-feira terei de repetir a dose, para fazer outra prova?
Por fim vou deixar um vídeo que achei no youtube:
Video bem humorado sobre as enchente do Rio
Quem quiser saber ou contribuir com os pontos afetados pela chuva no Rio de Janeiro pode acessar o link:http://oglobo.globo.com/rio/info/chuva/
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