Existem filmes em que apenas duas horas de projeção são insuficientes para satisfazer a mente do espectador. Mesmo depois do filme encerrado, você continua a discuti-lo com os amigos e pensar nos diversos desdobramentos que o final pode levar. Com a internet, esse período "pós-filme" vive por ainda mais tempo, com todos os debates em fóruns e blogs da web. São esses os filmes que serão lembrados por décadas, sendo assuntos de debates e das mais variadas aulas.
A Origem é um desses filmes.
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Inception, no original, é um dos poucos filmes desse ano que conseguiu atingir (no caso, superar) minhas expectativas. Christopher Nolan definitivamente se consolidou como um dos melhores diretores dessa nova geração, com sua carreira tendo filmes fantásticos como Amnésia e Batman - O Cavaleiro das Trevas.
O filme já começa surpreendendo. Ao apresentar Cobb (Leonardo DiCaprio) e Arthur (Joseph Gordon-Levitt, de (500) Dias com ela) em uma festa numa mansão oriental, em busca de um segredo industrial guardado por Saito (Ken Watanabe, de Batman Begins) tudo parece muito real, até a missão ser atrapalhada pela esposa de Cobb, Mal (Marion Cotillard, de Piaf), quando o filme nos mostra que na verdade eles se encontravam dentro de um sonho.
Com o insucesso da missão, ao tentarem fugir (já no mundo real) eles são capturados por Saito, que os contrata para uma missão incomum: inserir uma ideia na cabeça de Robert Fischer, futuro dono de um império empresarial (vivido por Cillian Murphy, de Batman Begins). É aí que a complexidade de missão começa a ser apresentada. Uma inserção não é algo muito simples pois é preciso convencer o subconsciente do alvo de que a ideia veio dele, e não de um agente externo. Em troca da missão, Saito promete a Cobb a retirada das acusações que o perseguem pelo assassinato de Mal.
Dessa forma, Cobb monta sua equipe, composta por Arthur, Ariadne (Ellen Page, de Juno), Eames (Tom Hardy, RocknRolla) e Yusuf (Dileep Rao, Avatar). Cada membro da equipe tem uma função. Arthur é o Armador, responsável pelo planejamento da missão e pela pesquisa de antecedentes do alvo; Ariadne é a Arquiteta, que deve criar os labirintos para enganar o subconsciente; Eames é o Falsificador, especialista na arte de forjar pessoas e objetos nos sonhos dos outros; e Yusuf é o Químico, que cria os compostos sedativos para possibilitar a invasão dos sonhos.
Todo o funcionamento do mundo onírico e as formas de conexão com o subconsciente são apresentados para o público através dos olhos de Ariadne (e às vezes de Saito, outro iniciante na história), com explicações quase didáticas de Cobb e Arthur. Nolan consegue organizar esse segundo ato sem soar clichê, até porque para o caso específico de A Origem, uma explicação é realmente necessária para o acompanhamento do filme.
Sobre o mundo dos sonhos, o nível de detalhes das construções e dos cenários é impressionante. O mais incrível é que, ao invés da equipe de produção construir cenários impossíveis na vida real e que seriam viáveis dentro dos sonhos de uma pessoa, Nolan prefere construir cenários factíveis, de forma a confundir tanto o espectador quanto os próprios personagens quanto a qual cenário é o real. Tudo isso com o mínimo de efeitos especiais (CGI), sempre buscando efeitos visuais.
A montagem do terceiro ato também chega a ser genial. Devido à complexidade da missão, a equipe usa três níveis de sonhos para confundir cada vez mais o alvo. Como cada nível possui uma velocidade da passagem do tempo diferente, é formidável o trabalho que o montador criou, de forma que podemos acompanhar todos os níveis de sonhos ao mesmo tempo. Junte isso com a trilha sonora impressionante do Hans Zimmer (que repete a parceria com Nolan iniciada em Batman Begins e continuada em O Cavaleiro das Trevas), que pontua os pontos importantes do filme de forma perfeita, e temos um encerramento formidável, que te prende na cadeira até o último segundo e te faz pensar sobre o que realmente aconteceu nos últimos minutos do filme.
Mas não foram só a montagem e a trilha que fizeram esse filme. O elenco conseguiu segurar os papéis de forma muito inteligente, e até mesmo personagens com pouca participação, como Miles (Michael Caine) e Mal (Marion Cotillard), conseguem ter uma presença que poucos personagens têm em blockbusters. O destaque vai para Joseph Gordon-Levitt, que consegue mostrar toda a competência do personagem nas cenas mais sérias e ainda serve de alívio cômico ao longo do filme. A cena mais empolgante, por sinal, foi totalmente protagonizada por ele, já que todos os outros se encontravam dormindo no seu nível.
Como eu disse antes, Chris Nolan conseguiu construir uma carreira excepcional em Hollywood, e A Origem só veio para consolidar sua filmografia. É muito bom quando roteiristas e diretores resolvem criar filmes que desafiam a mente do espectador e não consideram todos como tapados sem inteligência (como vêm acontecendo na maioria das produções). É uma prova de que mesmo blockbusters podem -- e devem -- ser mais do que apenas entertainment for dummies.
A Origem (Inception)
Escrito e Dirigido por Christopher Nolan.
Elenco: Leonardo diCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Tom Hardy, Ken Watanabe, Dileep Rao, Cillian Murphy, Tom Berenguer, Marion Cotillard, Pete Postlethwaite e Michael Caine.
Data de estreia: 16/07/2010 (original), 06/08/2010 (Brasil)
Muito bom o seu texto, e olha que já li muitos sobre o filme.
ResponderExcluirO filme é mesmo um exemplo raro de cinema com inteligência feito pelo Nolan. Sou fã do cara!
Abraço.